A magia dos princípios


Último dia do ano.
Esperamos 2013 com a alegria infantil de primeiro dia de aulas. Mochila nova a estrear, lápis, canetas e cadernos que ainda brilham. A promessa interior de maior dedicação aos estudos, de concentração, de organização irrepreensível.
Todos os princípios têm este poder bonito, esta sensação boa de que vamos fazer melhor, vamos ser melhores. No princípio da semana. No princípio do mês. No princípio do ano letivo. No princípio do ano civil.
Princípios. Aparecem-nos sempre como novas oportunidades. Como um começar de novo e ter hipótese de fazer tudo melhor, mais bonito. Como a folha branca que esperamos ansiosos para preencher com letra cuidada, sem rabiscos nem erros ortográficos.
Que entremos em 2013 com a confiança do aluno que segura a mochila nova nas costas. Que os dias sejam cadernos em branco que preenchemos com cuidado.
E que este poder dos princípios seja renovado a cada dia, numa confiança continuada em nós e no mundo. Em nós no mundo.

Sorrisos :)

Falar da beleza dos sorrisos é arriscar-me a cair num cliché gasto. Mas eu vou correr o risco. Porque os sorrisos ainda me surpreendem, ainda me encantam. Porque os sorrisos serão sempre sinal de esperança, de bondade no coração e confiança no olhar.

E porque, se me quero partilhar neste Natal, que seja nos sorrisos que cruzam o meu caminho, aqueles que dão sentido a cada dia e constantemente renovam em mim a Fé no mundo e nas pessoas.
Que este Natal possamos ver sorrir em nós Aquele que nasce numa entrega repetida. E que nos deixamos encantar e até emocionar pelos sorrisos que, sem saberem, são testemunho genuíno desse Amor incondicional que é Luz em cada dia.
Saibamos contemplar os sorrisos que nos roubam sorrisos. Saibamos sorrir.

Aqui ficam, em jeito de presentes, alguns dos muitos sorrisos que a Guiné-Bissau me tem oferecido.
Feliz Natal!














Casa*

A doce sensação de estar em casa.
Saborear as pequenas coisas. Contemplar os rituais de cada um.
Serenamente desfrutar  e sorrir de coração repleto de paz.
E é Natal. Esta coisa boa de luzes e alegrias, de partilhas e esperanças renovadas.
Natal e férias em casa, quando estás longe o resto do ano, é tempo bom de ser criança só porque sim. De rir à toa, de sentar no sofá de pernas cruzadas na preguiça inofensiva que o frio traz, de correr para atender o telefone e ouvir do outro lado pessoas que estão perto. É tempo de marcar pequenos-almoços na praia e ver as ondas molharem a areia fria; tempo de jantares onde o que alimenta são as conversas, tempo de passeios onde os sitios de sempre parecem completamente renovados pelo teu olhar de entusiasmo.
E tudo parece mais bonito do que nunca. Até o trânsito, o caos nos centros comerciais, a fila na farmácia. Tudo é mais bonito do que nunca porque o coração está em casa e sabe que voltará a partir daqui a duas semanas. Então tudo o que é menos agradável é desvalorizado; os olhos gigantes de felicidade genuína vêm tudo com a pressa de quem não quer perder nada e com a plenitude de quem quer levar tudo.
Que possamos sempre viver como quem não vai ficar. Que partir para o dia seguinte seja sempre uma viagem atenta.
Que saibamos ser viajantes no Natal. Em todo ano. Em todo mundo.

Saltar de paraquedas

Nunca saltei de paraquedas, mas deve ser das viagens mais bonitas e intensas. Imagino que faça rasgar os sentidos e o sentir. É preciso preparar o coração e o corpo todo. Ir sem medo.
Mas, às vezes, é preciso saltar de paraquedas mesmo quando não se tem vontade. E aí a barriga dói, não de nervosismo bom, mas de angústia pesada mesmo.
A verdade é que, com ou sem vontade, nem que por obrigação, um salto de paraquedas será sempre essa viagem única que nunca nos arrependeremos de fazer... e, quando pousarmos os pés no chão, vamos agradecer os instantes em que tivemos asas. Porque depois de saltar, resta a contemplação. Resta o milagre das asas abertas nas costas, do corpo livre no ar, de tocar o céu com a ponta dos dedos.
Às vezes temos que saltar de paraquedas e os momentos que antecedem o vôo parecem uma pequena tortura. Mas depois temos asas.
E não, não estou a falar de paraquedas. Estou a falar de outros saltos... que também dão asas.
Saibamos voar.

Querer ficar

Às vezes, para querer ficar, temos que pensar em partir. Em tudo o que teríamos que deixar para trás. Nas pessoas com quem deixaríamos de partilhar os dias. Nas cores que pintam a vida por aqui.
Por outro lado, se partirmos, há todo um outro mundo de pessoas bonitas que nos preenchem os dias, há outros tons a colorir os instantes.
Mas não podemos ficar no limbo. Só há o ficar ou o partir. Não há um meio-termo, um mais-ou-menos, um assim-assim. Ficar ou partir. Simples.
Enquanto não decidimos partir, que fiquemos por inteiro. E se já não queremos ficar, então que partir seja uma viagem com tudo de nós.
E sim, o “tudo de nós” é possível mesmo quando nos sentimos presentes em diferentes sítios ao mesmo tempo, mesmo quando vamos deixando pedacinhos de nós em lugares e em pessoas. Como é que é possível? Eu sei lá. Mas é. Magia talvez.
Tudo começa quando decides partir um dia. A partir daí, onde quer que estejas, estás sempre longe. Se te entregaste, onde quer que seja, a fazer o que quer que seja, com quem quer que seja… se te entregaste, ficaste para sempre ali, mesmo quando segues para outro ponto.
E sinto que o que estou a escrever parece não ter sentido. Mas tem. E tanto…!
Porque é preciso aprender a ter o mundo inteiro dentro de nós. E assim seremos inteiros no mundo. Em cada lugar. Em todos os lugares.
Hoje eu quero ficar. E para hoje querer ficar, um dia tive que querer partir. Não querer ficar. E vim.
Estou aqui e, às vezes, penso quando chegará a hora de partir. Ainda não chegou. Mas preciso de pensar na partida para saber que quero ficar.

Sala de espera

O que fazer na sala de espera? Principalmente quando não sabemos quanto tempo vamos esperar?
Ficar quieta? Ler as revistas deixadas na pequena mesa disposta ao centro?
Esperamos uma consulta? Uma entrevista de emprego? Uma reunião?
Talvez seja melhor prepararmos essa espera. Levar um bom livro. Música para ouvir em segredo.
Num tempo sem tempo, uma sala de espera pode ser um bom lugar de encontro connosco próprios, de reflexão, de silêncio e até de contemplação. Salas de espera são boas metáforas para a vida.
Quando não tivermos tempos de preparar a espera, ou quando ela vem sem contar, que possamos tirar proveito dela, como for possível.

Na vida, passamos muitas vezes por esperas. Algumas em salas próprias para o efeito, outras, as mais importantes, transversais aos diversos cenários que ocupamos. Às vezes, não tivemos sequer possibilididade de nos prepararmos para essa espera. E, enquanto a atravessamos, parece não haver nada para fazer. Há angústia, pode haver tristeza, e nós continuamos à espera. Sem saber bem o que esperamos, ou até porque esperamos. Mas esperamos.
Nestes momentos, que possamos tentar descobrir mais, perguntando como quem precisa de resposta, mas tem tempo para a compreender: "O que é que Deus me está a tentar ensinar?". Talvez existam, nessa espera, bons Mestres para nos fazer seguir caminho, talvez ao redor pistas ou orientações.
Que não desperdicemos nada. Nem mesmo as esperas.
E porque as semanas que vivemos são de espera daquele nascimento que se repete todos os anos, que saibamos esperar de coração confiante e olhos atentos. Independentemente daquilo em que acreditamos, aceitemos esta inspiração do Menino que nasce e das pessoas que O aguardam.
Que possamos assim, agora e sempre, aceitar as nossas esperas e reconhecer nelas a benção de possibilidades infinitas que nos cabe a nós desenhar.

Às vezes caímos na tentação do imediato, mas sabemos bem que as coisas mais importantes da nossa vida, e as melhores, fazem-se esperar... A candidatura a cursos, a uma vaga de trabalho. O bolo que esperamos no forno, a viagem para um destino desejado, aquele encontro especial que nos torce a barriga nas horas que o antecedem, o bebé que cresce dentro da mãe.
A vida é feita de esperas. E às vezes, principalmente quando esperamos uma coisa boa de data e hora marcada, essa espera é a mais deliciosa inquietação.
Mais dificeis são as esperas sem data, sem tempo, as que virão de surpresa quando menos "esperarmos". Talvez seja isto mesmo: saber esperar é não esperar. Será? Eu não sei muito bem. E também me perco em esperas que não compreendo, mas sempre me ensinam e direccionam.
É que estas esperas trazem em si potenciais riquezas que quase sempre negligenciamos. É tempo de nos demorarmos dentro de nós. De ler, de confiar. É tempo de pensar na verdade das coisas, na intencionalidade do caminho. E isto só se faz nas esperas. Não que tempo de espera signifique obrigatoriamente estar desocupado. Pelo contrário, estas esperas surgem muitas vezes no meio de uma agenda caótica de coisas para fazer. Mas há algo que nos diz que estamos em espera. Que é preciso pensar. Redirecionar.
Mas atenção, que estas esperas não nos façam nunca deixar de viver. Pelo contrário, que vivamos ainda mais intensamente, pois só assim descobriremos o que esperamos.
E depois, o mais bonito, é que sempre chega o momento que dá sentido a toda a espera.
Então que vivamos, que confiemos, que esperemos.

Alguma vez

te esqueceste de amar?

Às vezes sinto que me esqueci de amar.

Aquele amor simples, mas verdadeiro. Suave, mas constante. Transversal a todas as vivências, a todos os cenários. Aquele amor que te faz amar. Amar a sério. E amar a brincar. Amar. Não importa quem.

Aquele amor que é só porque sim. Sem génese nem finalidade. Sem lugar e sem voz. Sem tamanho, porque imensurável. Mas leve como o ar, quando se ama como quem respira. Quando se ama sem pretensiosismos, sem vaidade. Quando se ama sem dizer nada a ninguém. Quando se ama no segredo do coração, no brilho dos olhos, na paz do sorriso.
Paz... Amar assim faz-nos estar sempre em paz. É a mais verdadeira e certa fonte de paz esta forma de amar.

Já não me lembro como foi, quem me ensinou, mas aprendi a amar assim na minha primeira missão. Tão pequenina que era ainda, tão inocente, tão ingénua até. Mas não me esquecia de amar. Então talvez fosse bem maior que hoje.
Mas depois achamos que era preciso mais. Que amar não era suficiente. Tínhamos que produzir coisas. Ensinar coisas. Amar sempre, mas a fazer coisas, muitas coisas, novas coisas, sempre mais coisas.
E quando tentamos ser mais, ser melhor, às vezes deixamos para trás o essencial.
E ser mais faz-nos, afinal, ser menos.

Entretanto cresci, e tenho as responsabilidades de gente crescida. Trabalho efectivo para fazer, formações para preparar, parâmetros para avaliar, observações específicas que depois dão lugar a relatórios.
Mas descobri que às vezes me esqueço de amar.

Então tenho que voltar atrás, começar de novo.

Porque se crescer implica perder essa espontaneidade bonita de quem ama, então talvez não faça muito sentido.

Agora eu sei. Primeiro quero amar. Com o coração todo. Começar por aí.
E depois, sim, analisar, avaliar, fazer relatórios.

Vou aprender a ser pequenina outra vez. Só assim serei maior.

Vai passar.


Devia ser mesmo proibido.
O sofrimento, se tem que ser sofrido, que seja para ser transformado em aprendizagem. E não. Não é cliché nenhum. É, quanto a mim, das mais importantes das capacidades. Deixar a dor doer. E, a seu tempo, deixar essa dor dar lugar a algo maior, mais bonito, perene.

Ninguém é menos por chorar. Só não se pode chorar com pena de si próprio. Chorar é como quem lava a alma para depois seguir viagem. Às vezes parece mais fácil o aconchego numa tristeza que nem se compreende bem. E talvez seja preciso um pouquinho disso também. Depende do que nos dói. Mas mesmo enquanto magoa, que nos tranquilize a certeza da paz que virá, do assunto chato que ficará resolvido, do relatório interminável que conseguiremos acabar, da desmotivação que havia onde há agora entusiasmo, da distância que parecia não ter fim e afinal já transpusemos.

Porque, no fundo de nós, sabemos bem que vai deixar de doer. E temos que preparar o coração para esse momento.

Há dias, um amigo meu via uma amiga triste, a chorar, e sem saber sequer o que se passava, disse-lhe só:
- Vai passar. Seja o que for, vai passar.

Quando ouvi, o meu primeiro instinto foi rir. (Logo eu, que rio de tudo!)

Mas depois percebi como era bonita esta simplicidade. E como não podia ser mais verdadeiro.

Então é isso mesmo: vai passar. Seja o que for.

Mas mais importante é o que fazemos depois. O que crescemos com isso. A paz boa de sentir que aprendemos a valorizar. É como o arco-íris no fim de uma grande chuvada.
Que dentro de nós, nunca haja chuva sem arco-íris, e que nos demoremos mais nele do que na água que caiu.

Sempre que alguma coisa me dói, e porque não tenho paciência para essa coisa chata de estar triste, começo logo a pensar no que aquela situação específica me pode ensinar e atrevo-me até a ficar antecipadamente orgulhosa por ultrapassar o que ainda não ultrapassei. É batota, eu sei. Mas quando a finalidade é paz no coração e sorriso nos lábios, estas batotas são perdoadas.

 “É proibido chorar sem aprender.”
Não é proibido chorar. Mas é proibido não aprender.

Pelos caminhos da Guiné-Bissau

Acordar bem cedo. Saltar para dentro do jipe. Iniciar viagem. Estrada de alcatrão que rasga o mato das palmeiras e mangueiras, dos lagos que a intensa época das chuvas fez nascer. Cores de pessoas que cruzam a estrada, mulheres a caminho da bolanha, crianças em direção à escola. Seguimos caminho e os olhos fecham, a cabeça balança com o sono.
O alcatrão fica para trás. É agora a terra vermelha esburacada que segura os nossos solavancos.
No fim da estrada, o mar separa-nos de Bolama. Esperamos a canoa, pequenina. Tenho medo e rio de nervoso; a canoa a transbordar de gente, a mão mergulhada na água. Chegamos a Bolama, a ilha parada no tempo. As escolas que tentam ser esperança. As crianças, essas, iguais às de todo o mundo, rindo envergonhadas, contentes, despreocupadas. Sabe Deus as horas de caminhada para lá chegarem, o pouco que comeram, o trabalho que já fizeram de manhã cedo e o que ainda vão fazer antes de dormir.
No dia seguinte, voltamos a entrar na frágil canoa, a tremer, mas confiantes. E a beleza da paisagem distrai-nos do medo. Agora seguimos caminho para Tite. Tabanca no profundo interior da Guiné-Bissau, onde tudo é tão pouco, mas são muitos os poucos missionários que por lá se aventuram a mostrar Deus. São muitos os esforços, são muitos os dias de trabalho. São poucos os missionários, mas gigante a sua vontade. Valem por mil!
E eu, pequenina, já de regresso a Bafatá, relatórios fechados, com o mais importante por dizer. Não por falta de tempo, mas por falta de palavras.
Como dizer o indizível?
Se eu pudesse escrever tudo o que o meu coração diz, tudo o que sente, que me faz sentir; se eu tivesse palavras para cada angústia, para cada medo, para cada impressão; se eu conseguisse expressar a plenitude de cada alegria, a intensidade que cada descoberta acarreta; se eu pudesse escrever a verdade mais simples, se eu pudesse pôr em palavras as coisas que vejo e sinto sobre esta terra vermelha...
Fica, mais uma vez, este sentir sempre sem nome, porque sempre novo. E como é bom sentir sem nome…! É grande em mim e certeza de vida. Sentir. É só isto.
 
 
 

Não sei como Amar-Te.


Porque é difícil amar assim, sem saber bem quem És, o que És, mas sabendo-Te. Sei-Te.
Sei que me sabes.
Mas nem sempre sei ser em Ti.
Tenho saudades Tuas. Saudades.
Não sei se Te procuro como deveria. Não sei se estás aqui e eu não consigo ver.
Deixo a vida distrair-me.
Não Te esqueço. Mas nem sempre Te procuro.
Sei que gostas de falar baixinho, ao coração. Mas preciso que me berres ao ouvido. Para não me distrair mais. Para não me esquecer.

“E se algum dia eu me afastar de Ti, e se algum dia eu me esquecer de nós, vem procurar-me onde eu estiver. Não penses que sei ser sem Ti. Sou apenas um aprendiz de viajante.”

Essência

Há muita coisa a preencher os nossos dias, o nosso tempo, a nossa mente, os nossos espaços.
No meio de tanta coisa, tantas necessidades, tantos amigos, tantas ocupações, tantas roupas, tantos interesses... será que nos esquecemos de nós? Será que nos esquecemos do mais íntimo e simples? Será que deixamos de ver o mais óbvio? 
 
Acredito que todos, num momento ou noutro, nos demoramos na busca pelo essencial. Procuramos saber o que nos move, o que é realmente importante para nós.
Essencial não no sentido do básico, mas daquilo sem o qual não seríamos.
Não seríamos o que somos, quem somos.
Qual é, afinal, a minha essência? O que me faz SER?
Cuidado. A resposta é simples. Mas não estamos habituados a ser simples. A sentir simples. A desejar simples. Quando projectamos o olhar para longe à procura de respostas, os olhos esquecem-se de procurar no que sempre esteve ali tão perto. Esticamos o pescoço, erguemos a cabeça, arqueamos as sobrancelhas...
 
E lembro-me do que escrevi à minha mãe há não muito tempo:
Porque antes de saber para onde vamos, temos que lembrar de onde vimos, de quem somos. E porque a família será sempre a nossa casa, onde quer que esteja e onde quer que estejamos.
 
É como a saga do alquimista na busca pelo seu tesouro. Depois de correr todo o mundo, percebe que ele nem precisava ter saído de casa para o encontrar. Mas precisava. É incrível como crescemos quando saímos das nossas fronteiras (fronteiras geográficas, pessoais, emocionais, sociais); o mundo parece expandir-se para além dos seus limites; aprende-se tanto, cresce-se tanto. E, no fundo, é um crescer e aprender, e um descobrir um mundo maior só para reconhecê-lo mais pequeno do que alguma vez foi.
É engraçado, não é? Como vendo tanto, conhecendo tanto, viajando tanto, e todas estas experiências sendo tão profundamente gratificantes, enriquecedoras e significativas, algo em nós encontra um caminho que nos leva ao essencial. Mas também é verdade que voltamos a esse essencial com mais certeza, com mais verdade. Encontramos um mundo pequenino e agarrámo-lo com as mãos, transportando o mundo gigante dentro de nós.
Continuando a saciar a minha sede de mundo, hoje eu sei, no mais profundo de mim, o que é essencial.

Cenouras


Magia.
Preciso de magia. Preciso de ver coisas que façam os meus olhos brilharem. Preciso que os meus olhos brilhem. Nem que para isso tenha que ser eu a fazer a magia. A aprender truques e ensaiá-los. Mas preciso de magia. Mesmo que eu saiba o segredo por trás. Preciso de magia que semeie esperança no meu coração. Preciso de magia que me faça acreditar que tudo é possível. Porque se eu deixar de acreditar, nada mais é possível. E ainda é muito cedo para desistir.
Mas às vezes fico cansada, sem motivação, sem vontade. E ainda bem que me sinto assim, porque me obrigo a ultrapassar e crio mecanismos novos.
Estar pelo segundo ano na Guiné-Bissau é partilhar de cumplicidades construídas, de uma comunhão bonita com as pessoas, de uma aprendizagem profunda de tantas coisas que as palavras não conseguem abraçar. É já saber o caminho de cor e, mesmo assim, deixar-me deslumbrar pelas belezas repetidas, sem deixar que percam a intensidade que senti a primeira vez que as vi. Mas é difícil. É mais difícil.
Aceitar os constrangimentos diários constantes e multiplicados, lidar com os mesmos problemas já com menos paciência, o calor absolutamente insuportável, a dificuldade de fazer as coisas mais simples e a impossibilidade de fazer as mais elaboradas, as saudades de casa e dos meus, os bichos por todo lado, a instabilidade política e militar que nos mantém num clima de incerteza e insegurança perene…
Às vezes sinto-me como o burro que segue caminho a perseguir aquela cenoura que alguém pendura à sua frente. Com a diferença de que sou eu própria que coloco a cenoura à minha frente.
Porque quando os estímulos exteriores são, de todos os lados, no sentido de parar, ou seguir por outro caminho, lutar pelas nossas convicções, ou até lutar simplesmente pelo nosso bem-estar, implica voluntariamente seguir cenouras penduradas. E fazê-lo diariamente. Várias vezes ao dia até.
Não sei, de facto, se isto é teimosia ou perseverança. Mas chamemos-lhe perseverança. É mais bonito. Soa melhor.
Voltando às cenouras, a verdade é que me têm ajudado a seguir com o entusiasmo do qual não abdico. Frases que vou encontrando, imagens que alguém partilha, um livro, uma série que me faça rir com vontade. Tudo que possa promover o optimismo e a acção empenhada, dinâmica, criativa. Coisas que me obrigam a parar, a pensar no sentido mais profundo dos acontecimentos, a reflectir e construir paz bem dentro de mim. E a verdade é que sempre chego ao ponto em que consigo ultrapassar os obstáculos que inicialmente me pareciam intransponíveis, chego sempre à conclusão que afinal não era assim tão complicado, não era assim tão grave. Sempre reconhecendo infindáveis bênçãos nos meus dias e rendida a uma sensação de gratidão plena.
Claro que não demora muito até uma nova situação perturbar a serenidade alcançada, mas já sei o caminho para reconquistá-la rapidamente. 
É uma questão de treino.
O sorriso, a alegria, a boa disposição, não têm que ser sempre espontâneos. O optimismo treina-se.  E como tudo aquilo que treinamos, vamos ficando cada vez melhores, e ser feliz cada vez é mais fácil. E não, não são as circunstâncias que decidem. Somos nós. Sou eu. És tu.
E é difícil, claro que sim. É preciso treinar!
É preciso abrir bem os olhos e procurar na paisagem impulsos de alegria para seguir; é preciso saber encontrar nos dias os rasgos de humor, é preciso saber brincar sem pensar na desarrumação, é preciso jogar sem pensar em ganhar.

É preciso um quintal repleto de cenouras para colocarmos à nossa frente.
Se não temos cenouras, talvez esteja na altura de começar a semear.

Eternidades

No dia de hoje, é comum lembrarmo-nos dos que já partiram, dos que continuam a ser Vida em nós numa ausência que nos dói. Lembrá-los enche-nos o olhar de ternura.
E fico a pensar como são eternos em mim. Lembro-me de pensar nisto há dois anos, depois de uma perda me obrigar a construir eternidade no meu coração.
Parece contraditório, mas a eternidade pode ter diferentes durações. Acredito mesmo que a eternidade mora nos momentos que têm princípio e fim, muito mais do que no tempo infinito.
Mesmo quando choramos (e é preciso chorar), mesmo quando são pesadas demais a saudade, a efemeridade da vida e as ausências, é preciso aprender a celebrar as vidas que deixaram de ser corpo entre nós.
A efemeridade desaparece quando as vidas são partilhadas. A memória faz com que os momentos sejam reais, mesmo depois de terminados.
Poderá ser eterna a chama de uma vela, mesmo depois de se apagar?
Sim. Basta que alguém tenha contemplado a sua luz. Tudo que é contemplado é eterno.
Sorrio tranquila, feliz pela constatação da eternidade sublime que descobri, esta subtil e quase mágica perenidade de instantes e vidas.
 A vida não é feita de momento efémeros, saibamos nós construir pedaços de eternidade.
 
 

Borboletas

Os útltimos dois dias foram de formação e debate com responsáveis, diretores e professores de escolas de alguns dos sítios mais inacessíveis desta Guiné-Bissau.
 
Nos primeiros instantes do encontro em Bafatá, os cumprimentos seguiam-se de "Kuma ku faci pa bim?" - Como fizeste para vir?
Os relatos, de nenhum sítio mais distante que 200 km, falavam de horas intermináveis de viagem, alguns de dois dias, de canoas, de caminhos de buracos e lama onde os carros atolaram vezes sem conta, dos kilómetros que fizeram a caminhar, de esperar e trocar de kandonga (espécie de transporte coletivo), dos pontos em que os militares os obrigavam a descer do transporte, seguir a pé uns 100/200 metros e voltar a entrar mais à frente para seguir viagem. Mas chegaram.
 
Numa das minhas primeiras deslocações a uma destas escolas, já na época seca, perguntei, perplexa pelas péssimas condições da "estrada": Como é possível fazer-se este caminho na época das chuvas??. O Mário Na Kala respondeu-me, sem hesitação: Com Deus!!
 
Trabalhou-se muito nestes dois dias. Partilhadas as dificuldades e os constrangimentos (suficientes para paralisar qualquer escola), traçam-se metodologias de trabalho, debatem-se questões comuns, criam-se sinergias e seguimos confiantes no início de mais um ano letivo.
Agora, a par de debruçar-me na parte objetiva do trabalho e de começar a projetar passos concretos a dar, fica em mim, mais uma vez, a admiração profunda por estas pessoas, pelo seu empenho, pela sua força e preserverança.
 
No ínicio do encontro, todos foram convidados a apresentarem-se, referindo, entre outras coisas, a função que desempenhavam na escola.  O Braima riu e disse com firmeza: Eu sou sozinho na escola! Sou o professor, o diretor, o contínuo, o servente...!
Quando visito esta escola, vejo uma sala apinhada de alunos (entre 40 a 50) e um professor que se multiplica para ensinar as 4 classes. E vejo-o estender a mão envergonhada com os documentos da escola, feitos à mão numa folha suja; os registos de assiduidade a lápis para poder apagar no final do ano e voltar a usar no próximo, numa reciclagem forçada já de há alguns anos.
 
Volto a lembrar-me das borboletas, numa descoberta de há pouco mais de um ano:
 
Borboletas! Pois é… há imensas borboletas aqui na Guiné-Bissau. Imensas! Por todo lado!
E há dias demorei-me nelas, nas borboletas. Há tantos bichinhos feios, baratas, aranhas, lagartos, sapos por todo o lado, cobras, morcegos, abrutes, tantos mosquitos e mais e mais insectos… e depois há as borboletas. Lindas! De todas as cores e padrões. Voando contentes!
Parece quase um sopro de Deus, um toque de Beleza sempre presente, transversal a todos os cenários.
 
Foi muito importante parar-me neste meu encontro com as borboletas.
Porque preciso delas, do que elas simbolizam enquanto brilho de cor e alegria leve e constante.
E porque tenho conhecido borboletas-gente por aqui. Pessoas tão bonitas, que não me basta admirá-las, porque me perco no mistério infinito de tentar perceber como podem existir estas pessoas.
Ao longo da minha vida tenho tido a sorte de conhecer verdadeiros tesouros, pessoas mesmo bonitas… e pessoas mesmo bonitas implica beleza maior que qualquer paisagem do mundo, que qualquer monumento, que qualquer obra de arte. Porque é uma beleza sem tamanho e sem lugar, sem cor e ao mesmo tempo com tantas cores e cores inventadas e brilhos inexistentes mas cheios de luz; porque é uma beleza que vem de dentro e que foge pelos olhos de quem a tem, projectando coisas que nunca ninguém saberá explicar.
Ai (suspiro), como agradeço a Deus por estas pessoas!
Mas aqui, não chega contemplar assim as pessoas-borboleta que tenho conhecido. Porque é mesmo um mistério. Como é que alguém que não tem nada ou tem tão pouco, consegue dar tanto e ser tanto… é um verdadeiro mistério. Quase um dogma.
11.Outubro.2011
 
 
Hoje fico com o dogma e o empenho para ser mais e melhor com o tanto que tenho disponível.
Grata pela inspiração.

Viver na Guiné-Bissau

é viver absolutamente feliz e profundamente livre. Porque te entregas. Porque aceitas. E só assim faz sentido.
 
Viver na Guiné-Bissau é emocionares-te vezes sem conta com o acolhimento simples, humilde e genuíno dos que te rodeiam.
É ganhar aversão à palavra "BRANCO" que te é dirigida e sempre te lembra que ainda és demasiado diferente.
Mas o tempo vai passando e "branco" é substituído pelo teu nome pronunciado pelas ruas por pessoas que nem sempre reconheces, mas saúdas com alegria.
Mais tempo passa e já és tu a chamar as pessoas quando as vês ao longe. Ja conheces a terra e a terra conhece-te. Mais tempo ainda e o crioulo dança na tua boca em conversas que manténs orgulhosa.
 
Viver na Guiné-Bissau é aprender mesmo o que não queres, é sentires-te perdida e até desiludida, mas é também uma força gigante e irresistível que te faz ultrapassar todas as dificuldades e obstáculos e seguir maior e mais confiante. Mais plena. Mais inteira. Porque te lembras que este é o teu sonho. Que esta é a vida que queres. Que é bem mais difícil do que pensavas, mas vale a pena! 
E porque os guineenses são inspiração de magia em cada gesto, são exemplo de coragem e dedicação, de luta e preserverança.
 
Viver na Guiné-Bissau é receberes em ti a chuva que cai do céu, é saltares nas poças de água com os amigos que se tornaram família, é deixares os sorrisos molharem os lábios sem medo dos relâmpagos enquanto corres pela rua.
 
Viver na Guiné-Bissau é passar horas a tentar ver estrelas cadentes que teimam em não aparecer e se mostram dias mais tarde quando estás distraída mas precisavas, mais do que nunca, de um brilhozinho no céu.
 
Viver na Guiné-Bissau é passar horas dentro de jipes em estradas esburacadas no meio do mato, é percorrer de canoa os sitios mais bonitos do mundo, é distinguir dezenas de cantos de pássaros, é cansar o braço que acena às pessoas que te cumprimentam no caminho.
 
Viver na Guiné-Bissau é conviver (demasiado!) perto com os bichos e bichinhos. É passar a vida rodeada de poeira ou de lama; uma de cada vez, não as duas ao mesmo tempo, vá.
 
Viver na Guiné-Bissau é aceitar um ritmo de vida diferente, é treinares a tua paciência, é aprenderes a saborear, a desfrutar, a confiar. 
 
 
Há dias em que é preciso parar e contemplar.
Apesar das nuvens escuras no céu, deixemos o nosso olhar pousar nas cores do Arco-Íris.
 






 
 
 
 
 
Guiné-Bissau, terra sabi!

Prometes voltar?

A pergunta é feita pela Isabel ao irmão, no segundo capítulo do livro que me tem ocupado os intervalos deste fim-de-semana: "Uma terra distante".
 
Foi uma prenda que ofereci a quem, como eu, está numa terra distante e partilha comigo pedaços da vida em Bafatá. Nesta reciprocidade espontânea, sou eu agora a lê-lo.
Ainda estou a descobrir a história.
Mas antes precisei parar e digerir este Prometes voltar? dirigido a quem parte para uma terra distante.
 
Prometes voltar?
Não sei responder. Não sei se percebo a pergunta.
 
E fico a pensar até nisto: uma terra distante. Distante de onde? Distante de quem? Distante de quê?
 
Prometes voltar?
Lembro Luanda e os meus meninos. Minha primeira terra distante. Onde tudo começou. Onde me perguntaram, pela primeira vez, olhos firmes nos meus: Prometes voltar?
Depois Moçambique. E agora a Guiné-Bissau.
 
Prometes voltar?
E esta pergunta entoa em mim. Sem resposta. Sem sentido.
Voltar.
Prometes voltar?
 
Voltar onde?
Voltar para casa?
Voltar a Angola?
Voltar a Moçambique?
 
Voltar a um lugar? A uma pessoa? A um instante?
 
Quando eu souber, de verdade, que todos os lugares são um só, nunca precisarei de voltar. Nem de partir.
Por agora fico, aqui, nesta terra distante. 
 
Mas... estarei eu assim tão distante? Às vezes acho que estou perto, muito perto.
Talvez porque nunca se parte por inteiro, nunca se regressa por inteiro. Então como voltar de onde nunca chegamos a partir? E como não voltar aos lugares aonde fomos (somos?) plenitude e Vida?
 
Saio de casa e o meu coração quer voltar. Chego a casa e o meu coração quer voltar.
Quando todos os lugares são terras distantes e quando em todos algo nos faz prometer voltar...
 
Mas, afinal, nada do que conhecemos é distante, porque vive em nós.
Porque os lugares são mais do que a intensidade do pôr-do-sol laranja, mais do que a terra vermelha do chão, do que o asfalto da estrada. Porque os lugares não são as paredes e os móveis, não são as avenidas nem a água do mar.
Os lugares são palcos. E o que fica em nós são as pessoas que o enchem para nos contar uma história, para nos divertir, para nos ensinar, para nos tocar, para nos fazer pensar. O que fica em nós são as interações não ensaiadas nesse palco, são as improvisações constantes, são as surpresas que não estavam no guião, são as cumplicidades e as descobertas.
Os lugares são essas pessoas a quem pometemos voltar. Mas a verdade é que não chegamos nunca a partir. Nunca partimos das pessoas a quem prometemos voltar. Ficamos sempre com elas e elas ficam sempre connosco.
 
Prometes voltar?
Não. Prometo nunca partir.

Erradicação da pobreza

Hoje é o dia da Erradicação da Pobreza.
É só mais um dia?



Num mundo de crise económica, de aumento do preço de combustíveis, de acréscimos constantes em tudo que é imposto, de desemprego, de insatisfação social profunda... a pobreza torna-se mais evidente, mais próxima, mais real.
O que fazer na nova pobreza que está a surgir?
Talvez responder a isto ajude a resolver também a pobreza mais antiga, mais profunda.
E hoje, provavelmente por todo mundo, há eventos apropriados ao dia, há seminários a discutir o assunto, há sessões de sensibilização. Nenhum pobre fica menos pobre. Ou ficará?
Mas é bom que se pare e pense. Nem que se repitam as reflexões, nem que parecem impossíveis conclusões. Quando tudo o que se pode fazer é pouco, que se faça esse pouco. Nunca nada!
Um dia, depois de tanto andarmos em círculos, depois de tanto escrevermos as mesmas teorias, um dia, depois de mais umas quantas manifestações, de outras tantas imagens chocantes nos telejornais, um dia, depois de tantos outros dias, somados todos os esforços, vamos estar mais perto...
Até lá, continuemos, como podemos. E quando isso não for suficiente, continuemos como não podemos.
É... o mundo parece não ter muitas razões para nos animar nos dias que correm.
E logo aqui começa a nossa responsabilidade: vamos nós animar o mundo!
Tudo começa com um pouco de bom humor que ajuda a relativizar; com um sorriso que desenha outros, com uma ação motivada que convida mais braços a erguerem-se. 
Enfrentemos as dificuldades com seriedade, mas de sorriso no rosto. Exijamos mais, mas não só para nós, para o mundo. Mas exijamos!
Falo de contentamento, mas não de nos contentarmos. Isso nunca!
Agora, vamos pensar: atravessar as dificuldade de mau humor, cabisbaixos, sem esperança? Ou atravessá-las em boa companhia, com boas conversas, com gargalhadas soltas e contagiantes? O caminho é o mesmo, mas os passos seguirão mais ritmados.
Até a montanha mais alta tem o seu cume. E se caminharmos juntos, será um passeio!  Há conversas para partilhar, paisagens para contemplar... Tudo isto enquanto seguimos de passos firmes. Mas nada nos obrigada a caminhar sozinhos, sérios e calados encosta acima.
Reclamar pelas pedras maiores que temos que escalar só nos faz gastar energias desnecessárias e lentifica o nosso andar.
Sigamos de sorrisos no rosto,
Quem não quer caminhar feliz, que invente outro caminho, que ponha mãos ao trabalho e fure a montanha num túnel para o outro lado.
Alternativas, sim. Mau humor, não. Só atrasa. Só cansa.
Eu também queria (oh, se queria!) outro caminho. Um mais fácil. Um mais justo. Não estes em que uns vão a pé sem nem terem tomado o pequeno-almoço e outros seguem tranquilos num helicóptero.
Eu também queria... Continuo a acreditar que um dia vai ser possível. Continuo a dormir e a acordar com a responsabilidade de fazer algo concreto, real, com impacto positivo a longo prazo na Vida. Não na minha vida, não na tua vida, não na vida de alguns. Na Vida.
Enquanto não consigo - e sem saber se algum dia conseguirei, se terei a preservança suficiente, a inteligência suficiente, a audácia suficiente, a criatividade suficiente - sigo pela montanha como consigo. Cheia de sorte pelos que caminham comigo e sempre a tentar encher o coração de coisas boas, para que o resto não tenha espaço.
Hoje é o dia da Erradicação da Pobreza.
Um dia não vai ser dia.

Banhos de chuva

Porque é nestes momentos de comunhão plena e profunda que tudo parece ainda mais simples, mais verdadeiro.


Apanhar a chuva. Não porque é inevitável, mas porque se quer. Porque se decidiu aceitar a chuva que cai e caminhar debaixo dela.

Vocês sabem o que é sentir a chuva no corpo e rir só porque sim?

E olhar para o céu e ver a chuva a cair?

É tão bonito! Tão bonito…!

Parar e ver a chuva a cair em nós… e saltar contente! E correr sempre com a chuva a cair…!



E rir mais e mais…
sem perceber, mas a saborear.








A descrição é de há um ano atrás, as imagens de momentos diferentes em que nasceram encontros perfeitos com a água.
E porque está quase a acabar a época da chuvas... Saibamos saborear!



Utopia na palma da mão

O que é possível?
O que é impossível?

Alguém disse uma vez: "Se consegues imaginar, é real."
E é ainda mais real quando sabemos, no mais fundo e verdadeiro de nós, que é possível.
É difícil, oh sim, é muiiito difícil. Mas é possível.
E não é isso que nos faz acordar de manhã e seguir pelos dias feliz e confiante? A mim é.

Mas às vezes não chega pensar, desejar. É preciso agir.
O que fazer quando não sabemos o que fazer?
A minha resposta foi: escrever!
E porquê?
Acima de tudo para não esquecer.

Um dia, pedi à minha mãe: "Por favor, se algum dia vires que me estou a acomodar, lembra-me dos meus ideais, lembra-me de quando eu acreditava que era possível lutar por um mundo melhor. Não deixes que me esqueça. Nunca me permitas que desista."

Atirar-lhe esta responsabilidade deixou-me mais tranquila. Mas a verdade é que tem que começar em mim.

Utopia na palma da mão é isso mesmo. Essa coisa quase imaginária, mas real, se o quisermos. Se formos ainda mais a querer.
Às vezes, quando estou muito atenta, vejo utopias que deixam de o ser, vejo o esboço de caminhos seguros... Mas depois vem a  vida, e distrai-me.
E outros dias, mesmo distraída, sou surpreendida pelas belezas mais inexplicáveis.

Quero aqui pensar sobre essas utopias, esses caminhos. Quero aqui partilhar os pequenos milagres do dia-a-dia que são ponte para novos sonhos, que não inspiração para novas lutas.

Se não conseguir mudar nada, que nunca seja porque deixei de acreditar, que nunca seja porque deixei de tentar.