Às vezes sinto que me esqueci de amar.
Aquele amor simples, mas verdadeiro. Suave, mas
constante. Transversal a todas as vivências, a todos os cenários. Aquele amor
que te faz amar. Amar a sério. E amar a brincar. Amar. Não importa quem.
Aquele amor que é só porque sim. Sem génese nem
finalidade. Sem lugar e sem voz. Sem tamanho, porque imensurável. Mas leve como
o ar, quando se ama como quem respira. Quando se ama sem pretensiosismos, sem
vaidade. Quando se ama sem dizer nada a ninguém. Quando se ama no segredo do
coração, no brilho dos olhos, na paz do sorriso.
Paz... Amar assim faz-nos estar
sempre em paz. É a mais verdadeira e certa fonte de paz esta forma de amar.
Já não me lembro como foi, quem me ensinou, mas
aprendi a amar assim na minha primeira missão. Tão pequenina que era ainda, tão
inocente, tão ingénua até. Mas não me esquecia de amar. Então talvez fosse bem
maior que hoje.
Mas depois achamos que era preciso mais. Que amar
não era suficiente. Tínhamos que produzir coisas. Ensinar coisas. Amar sempre,
mas a fazer coisas, muitas coisas, novas coisas, sempre mais coisas.
E quando tentamos ser mais, ser melhor, às vezes
deixamos para trás o essencial.
E ser mais faz-nos, afinal, ser menos.
Entretanto cresci, e tenho as responsabilidades de
gente crescida. Trabalho efectivo para fazer, formações para preparar, parâmetros
para avaliar, observações específicas que depois dão lugar a relatórios.
Mas descobri que às vezes me esqueço de amar.
Então tenho que voltar atrás, começar de novo.
Porque se crescer implica perder essa
espontaneidade bonita de quem ama, então talvez não faça muito sentido.
Agora eu sei. Primeiro quero amar. Com o coração
todo. Começar por aí.
E depois, sim, analisar, avaliar, fazer relatórios.
Vou aprender a ser pequenina outra vez. Só assim
serei maior.