Confundir com o Bem

Nestes últimos tempos, é fácil ficarmos confusos com todo o mal que nos é relatado. É um mal real, com muitas formas, entre o terror e a descriminação, entre o pânico e a indiferença.
A surpresa aparece quando constatamos que o "bem" se repete e multiplica num exponencial muito superior ao mal. Continuam a ser incontavelmente mais as bondades de todos os dias, e não podemos deixar de lembrá-las. 
Mais do que nunca, é importante que nos demoremos na bondade: na ação e na contemplação. Sermos bons, tanto quanto possível, o mais possível. Sermos bondade! E contemplar. Multiplicar gestos de bondade como quem comenta o mais recente acontecimento mediático.

Quanto entramos num espaço escuro, logo inventamos luz, seja no interruptor, com o telemóvel, acendendo uma vela, uma lanterna. Ninguém fica voluntariamente perdido no escuro. 
Hoje, neste mal que nos confunde, é preciso lembrar a nossa bondade, a nossa luz. Todos temos capacidade de iluminar!
E somos tantos a querer luz...! 

Vamos confundir com o bem?
Contar histórias de Paz, saborear as alegrias, desfrutar das companhias. Rir o peito cansado de entusiasmos!
Vamos lembrar os outros dessa bondade que nos humaniza, dessa igualdade que partilhamos em essência profunda de ser.
Sejamos exemplo de tolerância e compreensão, braços estendidos para pontes em construção.

Ao ódio, responder com Amor. Sempre. 

"Desconfundir" o mal e participar da confusão do bem!
Há um caminho longo pela frente. Vamos juntos?

#confundircomobem


Devolução

Abriu a época de saldos.
O valor dos seres humanos parece descer cada vez mais e é preciso definir regras para gerir toda esta mercadoria de gente. 

Juntam-se alguns outros seres humanos, daqueles de melhor qualidade, mais caros. Sentam-se confortavelmente em cadeiras de pele à volta de uma mesa. Olhares consternados de quem tem sérios problemas para resolver. Imponência de quem é Deus na decisão de destinos e de vidas.
"É para devolver!"
E eles chegam. Barquinhos pequeninos a transbordar de gente que desafia a sobrevivência. Então é assim: quem não morreu na travessia nem na emoção da chegada, volta para a Turquia. Foi uma boa solução encontrada. A possível. A única possível, claro está. E todos cheios de boas intenções. Por cada criatura dita humana que se devolve, os senhores do outro lado podem mandar uma da mesma espécie, que já estivesse à espera de caminhos. Só assim se consegue gerir esta confusão desenfreada!

Ai! Era o que mais nos faltava, a nós, pobre europa, ter que resolver os problemas desta gente de outros continentes. Nós que nem temos nada a ver com isto! Já muito fazemos nós! Já muito fazemos nós!

Não trazem fatura nem um recibo agrafado na orelha. 
Cometem o crime da esperança de uma vida melhor, de fugir do terror, de sonhar com paz.
São devolvidos e trocados por outros. Cromos de uma caderneta de líderes políticos. Toma lá estes 400 e mandem então 400 dos que já estavam aí. A ver se esta gente aprende que não pode ser assim à toa. Lá porque fugiram a arriscar a vida num pedaço de plástico sobrelotado, em ondas desconhecidas e noites frias, lá porque guardam no olhar e na alma sofrimentos inimagináveis. É lamentável, de facto. Mas não há mais que se possa fazer!

Por falar nisto, ando há dias para ir devolver uma camisola... Acho que já passou o prazo. Que chatice! Lá vão os 20 euros, que aquilo não me serve. 
Pena não ter comprado uma pessoinha, dessas de pouco valor, que vêm com os amigos nos barquinhos. Era mais fácil devolver.

Quando não estiverem tão atarefados, devolvam-me a mim também, por favor.
Sou tão boa como vocês. Revolta vestida de ironia e sarcasmo, e sempre o silêncio das ações.