Balanço

Ubuntu. Eu sou porque tu és. Somos.
Dias em Moçambique, dias em Ubuntu, dias em Amor.
E agora sempre?

Balanço destes dias. 
E coração a balançar.
Não sabe se vai ou se fica. 
Tem a certeza da viagem, do percurso, da âncora a aguardar.
Mas balança em vento de luz, entre um e um que só são reais na intenção.
Coração balança contente de vida. Balança pesado de inspiração. 

E neste balanço, o mais importante, é partir sem ir embora.
Fazer as malas sem esquecer nada e sem ir embora.
Entrar no avião inteira sem ir embora.
Ficar.
Ficar nos dias e nas pessoas que nos impelem a ser mais e melhores. Ficar na contemplação, no cuidado de entrega, no despojamento que deixa espaço para o mais importante. Ficar em mim. Aqui. E partir assim.
(Depois desta plenitude boa, não posso ir embora de mim.)

Fecho os olhos e há um sol a iluminar. Incandescente de paz no sentir.
Na escuridão dos meus olhos fechados, há cores a dançar. Há um silêncio solene rasgado por risos contentes e logo novo silêncio de escuta. Alegria a ressoar cá dentro. Olhos em água brilhante na emoção deste encontro tão bonito.
Adormeço em sonhos das imagens dos últimos dias, bêbada de gratidão deste Tanto imenso.

Foram dias repletos de inspiração com pessoas incríveis. Mostraram-nos um Moçambique de sonhos e caminhos, de pontes largas e sólidas a ligar todas as esperanças num mapa de novas estradas.

E nos profundos, demorados e repetidos abraços da despedida, ficámos misturados nas energias felizes de quem acredita no Mundo.

(E nada disto é exagero de metáfora ou poesia. Foi assim mesmo. Coração a explodir sereno. Tanto. Tanto. Tanto!)

Ubuntu. Eu sou porque tu és. Somos.

Estamos juntos!


Agora

Agora. Sem correr para o depois. Agora. Tanto espaço. Tanta Energia. Agora.

Daqui a poucos minutos (talvez não tão poucos assim, que o vôo está atrasado), estarei algures num pedaço de céu a caminho de Moçambique.

10 anos depois, vou regressar a uma terra que me ensinou a amar inteira quando eu achava que era impossível amar mais, me ensinou a amar melhor quando, entre a ingenuidade e a prepotência, achava que não havia mais a aprender.
E descobri, então, que sempre que achamos não haver nada a aprender, é quando mais precisamos de ensinamentos.

Há 11 anos, quando corri pela primeira vez para Moçambique, cheguei cheia de pressa de fazer coisas e obrigaram-me a parar. Embati num muro duro, implacável e indiferente à minha velocidade e à minha agenda. Mas não doeu. Essa parede alta era forte, mas suave, e o choque terminou numa espécie de abraço metafórico, de aconchego e novamente força a impelir. E antes de fazer o que quer que fosse, tive(mos) que aprender a estar. Estar. Coração todo ali. Consciência do tempo e do espaço. Gratidão pelas pessoas. Confiança no caminho. Entrega. Entrega total. Estar.
E depois sim, fazer. E fiz(emos) coisas tão bonitas! Porque estava(mos).
Há 10 anos, um ano depois, voltei a Moçambique, já em plenitude feliz, coração todo a explodir da magia dos reencontros.

Talvez não seja assim por acaso este regresso agora.
Os últimos tempos têm sido de fazer. Fazer imensas coisas, numa agenda preenchida e tarefas sobrepostas num castelo torto. Mas não estou. Não estou inteira em mim nem nos outros. E desta forma não faz sentido. Porque não faz sentir.
E se as minhas pessoas bonitas me aceitam assim, em pedaços de tempo contados e escassos, que não aceite eu estar tão pouco, que me lembre desse muro que me empurrou para me abraçar. 
Profundamente grata por esta rede incrível de suporte, cuidado e amor, quero aprender a guardar espaços de tempo sagrados de celebração discreta - mas atenta - da vida e dos outros
E imponho a mim própria este limite, este ponto final em malabarismos. Agora Moçambique. Outra vez. Tantos anos passaram e tanto para (re)aprender. Dias que se esperam de Luz e Amor. Quero só saber que vou aterrar inteira e permitir-me essa comunhão plena e entrega genuína.
E depois, aproveitar o balanço, e voar de volta para cá, nessa certeza de que 2018 terá que ser um ano para Fazer menos e Estar mais. Fazer melhor, mais atenta, com mais cuidado. Mas Fazer menos. Dizer que não quando for preciso, só para garantir que cada Sim é total e será vivido e desfrutado.
E Estar mais. Demorar-me nas casas e nos encontros. Ter conversas mais longas. Demorar-me menos no relógio para o compromisso seguinte e mais nas conversas que ainda esperam tantas palavras.

E agora, Moçambique.
E agora, viver agora.
Até já.