À procura

Há mesmo muita coisa que eu não sei. Mesmo muita. Nem estou a falar de factos e números. Estou a falar das coisas de dentro. Do que sinto. Do que quero. Do que sonho. E há mesmo muita coisa que eu não sei. Preciso conhecer-me melhor. Conhecer as ruas por onde passo distraída, os sítios onde me sento a descansar de olhos fechados sem ver o que está ao meu redor. 
Há tanto que eu ainda não sei. Tanto que eu não me sei.
Sei pouco. Sei-me mesmo pouco. Esse pouco que é agora o tudo que sei. Talvez deva partir daí.

Sei que não posso ficar. Mas não é altura de partir. Tenho a certeza disto. E sei-o, sinto-o, vejo-o. Não posso ficar, não quero partir. Nisto eu sei-me.
Acho que a resposta está no paradoxo de não poder ficar e não querer partir. 
Na relação entre estes dois "não's" existe todo um caminho estreito de possibilidades, mas largo de razões, imenso de entusiasmo, nú de verdades e vestido de alegrias.
É um caminho a desbravar, a asfaltar, a ligar em pontes estratégicas. 
É esse. Sim. É esse o caminho.
E não é tão paradoxal assim. O partir é o geográfico, e desse não é altura. O ficar é o conformismo, e para esse é demasiado cedo.
Não posso ficar. Não posso ficar resignada, não posso ficar alheada dos ideais pelos quais quero lutar, não posso ficar nas ações sem intenção, nos gestos vazios. Não posso ficar.
Mas não quero partir senão de mim. De mim para fora. Viagem entre gentes e não continentes.

É este o caminho.
Descobri-o agora, agorinha, no abstrato das palavras em que me concretizo.
Preciso ir além da poesia. Tudo é mais fácil na poesia. E mais difícil.