Impermanência. A dos
ciclos. E a que nos surpreende.
Impermanência. O mais
irónico desta impermanência é que ela é constante. Então ela é quase estável.
Como se a sua constância anulasse a própria impermanência.
Cá em casa eramos 4.
Passámos a ser 3, e agora, num curtíssimo espaço de tempo, somos 2. Mas desenganem-se se
pensam que isto é uma questão de números. Não é de Matemática que falo. É de
pessoas. De histórias. De cumplicidades. De olhares que falam quando as
palavras pagam imposto. De sorrisos que nos respondem. De silêncios que são
toda a companhia e compreensão que precisamos. Das palavras que já nos
conhecem, que já conhecemos. De colo, de família, de casa. De porto seguro que
somos uns nos outros.
Mas não, não é o fim do
mundo. Há telemóveis, há internet, há encontros. E, mais que tudo isto, há o
que houve. E se conserva. Há aquele momento inesquecível, há a noite em que
chorar foi mais fácil só por aquela presença, há a conversa em que Deus ficou
mais simples; há gargalhadas sem fim e sem sentido, há coisas coladas pelas
paredes, há coisas gravadas dentro de nós. E há alguém com quem partilhar estas
memórias e construir novas. É um 2 pequenino, mas um 2 bom.
E sempre volta esta frase de
Saint-Exupéry:
Aqueles que passam por
nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de
nós.
Não o diria melhor. É, de
facto, a forma mais simples e inteira de explicar as parcelas de gente que cada
um de nós é. Essa manta de retalhos partilhada que nos aquece dos frios da
vida, esse aconchego onde descansamos os risos e as conversas.
É isto que a impermanência no ensina, é isto que ela nos pede. Que vivamos. Que vivamos as pessoas, os lugares, os momentos. Que saboreemos cada onda que nos molha de sal nesse mar de vida. Que saibamos estar gratos pelas coisas boas nos nossos dias. Que sejamos atentos. Que valorizemos as pessoas e o que elas nos acrescentam. E só assim construiremos eternidades.
É isto que a impermanência grita em nós: Aprecia. Contempla. Admira. Agradece. Encanta-te.