A magia dos princípios


Último dia do ano.
Esperamos 2013 com a alegria infantil de primeiro dia de aulas. Mochila nova a estrear, lápis, canetas e cadernos que ainda brilham. A promessa interior de maior dedicação aos estudos, de concentração, de organização irrepreensível.
Todos os princípios têm este poder bonito, esta sensação boa de que vamos fazer melhor, vamos ser melhores. No princípio da semana. No princípio do mês. No princípio do ano letivo. No princípio do ano civil.
Princípios. Aparecem-nos sempre como novas oportunidades. Como um começar de novo e ter hipótese de fazer tudo melhor, mais bonito. Como a folha branca que esperamos ansiosos para preencher com letra cuidada, sem rabiscos nem erros ortográficos.
Que entremos em 2013 com a confiança do aluno que segura a mochila nova nas costas. Que os dias sejam cadernos em branco que preenchemos com cuidado.
E que este poder dos princípios seja renovado a cada dia, numa confiança continuada em nós e no mundo. Em nós no mundo.

Sorrisos :)

Falar da beleza dos sorrisos é arriscar-me a cair num cliché gasto. Mas eu vou correr o risco. Porque os sorrisos ainda me surpreendem, ainda me encantam. Porque os sorrisos serão sempre sinal de esperança, de bondade no coração e confiança no olhar.

E porque, se me quero partilhar neste Natal, que seja nos sorrisos que cruzam o meu caminho, aqueles que dão sentido a cada dia e constantemente renovam em mim a Fé no mundo e nas pessoas.
Que este Natal possamos ver sorrir em nós Aquele que nasce numa entrega repetida. E que nos deixamos encantar e até emocionar pelos sorrisos que, sem saberem, são testemunho genuíno desse Amor incondicional que é Luz em cada dia.
Saibamos contemplar os sorrisos que nos roubam sorrisos. Saibamos sorrir.

Aqui ficam, em jeito de presentes, alguns dos muitos sorrisos que a Guiné-Bissau me tem oferecido.
Feliz Natal!














Casa*

A doce sensação de estar em casa.
Saborear as pequenas coisas. Contemplar os rituais de cada um.
Serenamente desfrutar  e sorrir de coração repleto de paz.
E é Natal. Esta coisa boa de luzes e alegrias, de partilhas e esperanças renovadas.
Natal e férias em casa, quando estás longe o resto do ano, é tempo bom de ser criança só porque sim. De rir à toa, de sentar no sofá de pernas cruzadas na preguiça inofensiva que o frio traz, de correr para atender o telefone e ouvir do outro lado pessoas que estão perto. É tempo de marcar pequenos-almoços na praia e ver as ondas molharem a areia fria; tempo de jantares onde o que alimenta são as conversas, tempo de passeios onde os sitios de sempre parecem completamente renovados pelo teu olhar de entusiasmo.
E tudo parece mais bonito do que nunca. Até o trânsito, o caos nos centros comerciais, a fila na farmácia. Tudo é mais bonito do que nunca porque o coração está em casa e sabe que voltará a partir daqui a duas semanas. Então tudo o que é menos agradável é desvalorizado; os olhos gigantes de felicidade genuína vêm tudo com a pressa de quem não quer perder nada e com a plenitude de quem quer levar tudo.
Que possamos sempre viver como quem não vai ficar. Que partir para o dia seguinte seja sempre uma viagem atenta.
Que saibamos ser viajantes no Natal. Em todo ano. Em todo mundo.

Saltar de paraquedas

Nunca saltei de paraquedas, mas deve ser das viagens mais bonitas e intensas. Imagino que faça rasgar os sentidos e o sentir. É preciso preparar o coração e o corpo todo. Ir sem medo.
Mas, às vezes, é preciso saltar de paraquedas mesmo quando não se tem vontade. E aí a barriga dói, não de nervosismo bom, mas de angústia pesada mesmo.
A verdade é que, com ou sem vontade, nem que por obrigação, um salto de paraquedas será sempre essa viagem única que nunca nos arrependeremos de fazer... e, quando pousarmos os pés no chão, vamos agradecer os instantes em que tivemos asas. Porque depois de saltar, resta a contemplação. Resta o milagre das asas abertas nas costas, do corpo livre no ar, de tocar o céu com a ponta dos dedos.
Às vezes temos que saltar de paraquedas e os momentos que antecedem o vôo parecem uma pequena tortura. Mas depois temos asas.
E não, não estou a falar de paraquedas. Estou a falar de outros saltos... que também dão asas.
Saibamos voar.

Querer ficar

Às vezes, para querer ficar, temos que pensar em partir. Em tudo o que teríamos que deixar para trás. Nas pessoas com quem deixaríamos de partilhar os dias. Nas cores que pintam a vida por aqui.
Por outro lado, se partirmos, há todo um outro mundo de pessoas bonitas que nos preenchem os dias, há outros tons a colorir os instantes.
Mas não podemos ficar no limbo. Só há o ficar ou o partir. Não há um meio-termo, um mais-ou-menos, um assim-assim. Ficar ou partir. Simples.
Enquanto não decidimos partir, que fiquemos por inteiro. E se já não queremos ficar, então que partir seja uma viagem com tudo de nós.
E sim, o “tudo de nós” é possível mesmo quando nos sentimos presentes em diferentes sítios ao mesmo tempo, mesmo quando vamos deixando pedacinhos de nós em lugares e em pessoas. Como é que é possível? Eu sei lá. Mas é. Magia talvez.
Tudo começa quando decides partir um dia. A partir daí, onde quer que estejas, estás sempre longe. Se te entregaste, onde quer que seja, a fazer o que quer que seja, com quem quer que seja… se te entregaste, ficaste para sempre ali, mesmo quando segues para outro ponto.
E sinto que o que estou a escrever parece não ter sentido. Mas tem. E tanto…!
Porque é preciso aprender a ter o mundo inteiro dentro de nós. E assim seremos inteiros no mundo. Em cada lugar. Em todos os lugares.
Hoje eu quero ficar. E para hoje querer ficar, um dia tive que querer partir. Não querer ficar. E vim.
Estou aqui e, às vezes, penso quando chegará a hora de partir. Ainda não chegou. Mas preciso de pensar na partida para saber que quero ficar.

Sala de espera

O que fazer na sala de espera? Principalmente quando não sabemos quanto tempo vamos esperar?
Ficar quieta? Ler as revistas deixadas na pequena mesa disposta ao centro?
Esperamos uma consulta? Uma entrevista de emprego? Uma reunião?
Talvez seja melhor prepararmos essa espera. Levar um bom livro. Música para ouvir em segredo.
Num tempo sem tempo, uma sala de espera pode ser um bom lugar de encontro connosco próprios, de reflexão, de silêncio e até de contemplação. Salas de espera são boas metáforas para a vida.
Quando não tivermos tempos de preparar a espera, ou quando ela vem sem contar, que possamos tirar proveito dela, como for possível.

Na vida, passamos muitas vezes por esperas. Algumas em salas próprias para o efeito, outras, as mais importantes, transversais aos diversos cenários que ocupamos. Às vezes, não tivemos sequer possibilididade de nos prepararmos para essa espera. E, enquanto a atravessamos, parece não haver nada para fazer. Há angústia, pode haver tristeza, e nós continuamos à espera. Sem saber bem o que esperamos, ou até porque esperamos. Mas esperamos.
Nestes momentos, que possamos tentar descobrir mais, perguntando como quem precisa de resposta, mas tem tempo para a compreender: "O que é que Deus me está a tentar ensinar?". Talvez existam, nessa espera, bons Mestres para nos fazer seguir caminho, talvez ao redor pistas ou orientações.
Que não desperdicemos nada. Nem mesmo as esperas.
E porque as semanas que vivemos são de espera daquele nascimento que se repete todos os anos, que saibamos esperar de coração confiante e olhos atentos. Independentemente daquilo em que acreditamos, aceitemos esta inspiração do Menino que nasce e das pessoas que O aguardam.
Que possamos assim, agora e sempre, aceitar as nossas esperas e reconhecer nelas a benção de possibilidades infinitas que nos cabe a nós desenhar.

Às vezes caímos na tentação do imediato, mas sabemos bem que as coisas mais importantes da nossa vida, e as melhores, fazem-se esperar... A candidatura a cursos, a uma vaga de trabalho. O bolo que esperamos no forno, a viagem para um destino desejado, aquele encontro especial que nos torce a barriga nas horas que o antecedem, o bebé que cresce dentro da mãe.
A vida é feita de esperas. E às vezes, principalmente quando esperamos uma coisa boa de data e hora marcada, essa espera é a mais deliciosa inquietação.
Mais dificeis são as esperas sem data, sem tempo, as que virão de surpresa quando menos "esperarmos". Talvez seja isto mesmo: saber esperar é não esperar. Será? Eu não sei muito bem. E também me perco em esperas que não compreendo, mas sempre me ensinam e direccionam.
É que estas esperas trazem em si potenciais riquezas que quase sempre negligenciamos. É tempo de nos demorarmos dentro de nós. De ler, de confiar. É tempo de pensar na verdade das coisas, na intencionalidade do caminho. E isto só se faz nas esperas. Não que tempo de espera signifique obrigatoriamente estar desocupado. Pelo contrário, estas esperas surgem muitas vezes no meio de uma agenda caótica de coisas para fazer. Mas há algo que nos diz que estamos em espera. Que é preciso pensar. Redirecionar.
Mas atenção, que estas esperas não nos façam nunca deixar de viver. Pelo contrário, que vivamos ainda mais intensamente, pois só assim descobriremos o que esperamos.
E depois, o mais bonito, é que sempre chega o momento que dá sentido a toda a espera.
Então que vivamos, que confiemos, que esperemos.