Um dia, saiu de Casa.
Foi Lá e sentiu-se em casa.
Regressou a casa.
Mais ou menos.
Um regresso implica voltar ao mesmo lugar.
E nada, nunca mais, foi esse lugar.
A Casa de onde partiu recebeu-a sem paredes e sem chão. Janela inteira a lembrar o mundo. Portas abertas a novas viagens.
Voltou a sair de Casa rumo a um outro Lá que também era casa; e depois outro e outro.
Não sabe explicar, porque não percebe. Encontra-se, às vezes, na poesia que dá sentido a todos os longes; segura-se nessas palavras que dão beleza à dor que incomoda lá dentro. Quando dói bonito, parece que dói menos.
É feliz nas ondas que embalam a vida. Segue nesse barco de palavras escritas e lidas; palavras que desenham caminho, caminhos que seguem as palavras.
Nenhum ano é igual ao outro. Novas pessoas e novos lugares. Coração a reinventar-se em si mesmo. Saudades e sempre esse longe a gritar. Ondas de efémeras proximidades.
E sempre as estrelas lá no alto. Sempre luzes bonitas em todas as viagens.
Um céu a emoldurar novos trajetos... e o que ela anseia é mesmo um regresso, mas já não sabe o caminho. O que ela quer mesmo, é descer desse barco de poesias de mundo e ser inteira naquele lugar de onde já nem sabe que (se?) partiu.
Lançar a âncora, prendê-la bem fundo. Pisar terra firme, sem calendários a marcar a próxima partida. Sorrir, respirar e ir devagar. Ficar.