Ubuntu.
Eu sou porque tu és.
Viver em sociedade implica pisar o mesmo palco que muitos
outros atores, sem que haja possibilidade de estudar o “guião”
previamente. Quem é, afinal, o Outro
com o qual me cruzo no palco? Qual é a sua essência? E de que tamanho é este
palco? É sociedade enquanto cidade? Nação? Humanidade?
Antes, respondamos a uma questão ainda mais básica:
Porque tenho que me relacionar com o Outro?
Será que é possível viver individualmente? Sem qualquer
relação com Outro?
No limite, a relação com o Outro
explica-se pelo próprio egoísmo da felicidade; e a felicidade basta-se pela
relação com o Outro. Qual será, na verdade, a maior vantagem que posso obter
desta relação? Não serão a cumplicidade e o afeto? Não reside no Outro a verdade da minha humanidade? Parece
claro que sim. É intuitiva a semelhança que nos aproxima de todos os seres
humanos e as diferenças que nos fazem iguais na medida de cada diferença.
A humanidade do
Outro coincide com a minha e
reforça-a. Sem o Outro, posso viver,
posso viver a vida biológica, mas não posso viver humanamente.
Toda a vida humana é relação com o Outro.
Fora do contexto relacional, a vida humana perde a sua
consistência. O homem só se cumpre e adquire realidade humana quando participa
de relações recíprocas.
Ubuntu.
Eu sou porque tu és.
Como deve, então, ser esta participação? Como posso
salvaguardar a diferença do Outro na
minha relação com ele?
A humanidade partilhada pelos homens, deve
lembrar que eu não sou mais humano que ninguém. O respeito pelo outro implica,
antes de mais, permitir que ele seja diferente de mim.
Sou parte de um Nós, maior do que Eu e
maior do que o Outro; e este Nós deve ser expandido, paralelamente a
uma solidariedade que evolui, em consequência do acolhimento de diferenças
culturais, religiosas e raciais. Dentro desse Nós cabem todas as diferenças que os seres humanos comportam.
O Nós está, aliás, muito mais
nas diferenças do que nas semelhanças, porque é um conjunto, uma reunião,
não de mesmos, mas de outros. E é essa a verdadeira riqueza: a
diversidade, a mistura, a compreensão, o respeito, a cumplicidade. A
Humanidade.
Ubuntu.
Eu sou porque tu és.
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