Prometes voltar?

A pergunta é feita pela Isabel ao irmão, no segundo capítulo do livro que me tem ocupado os intervalos deste fim-de-semana: "Uma terra distante".
 
Foi uma prenda que ofereci a quem, como eu, está numa terra distante e partilha comigo pedaços da vida em Bafatá. Nesta reciprocidade espontânea, sou eu agora a lê-lo.
Ainda estou a descobrir a história.
Mas antes precisei parar e digerir este Prometes voltar? dirigido a quem parte para uma terra distante.
 
Prometes voltar?
Não sei responder. Não sei se percebo a pergunta.
 
E fico a pensar até nisto: uma terra distante. Distante de onde? Distante de quem? Distante de quê?
 
Prometes voltar?
Lembro Luanda e os meus meninos. Minha primeira terra distante. Onde tudo começou. Onde me perguntaram, pela primeira vez, olhos firmes nos meus: Prometes voltar?
Depois Moçambique. E agora a Guiné-Bissau.
 
Prometes voltar?
E esta pergunta entoa em mim. Sem resposta. Sem sentido.
Voltar.
Prometes voltar?
 
Voltar onde?
Voltar para casa?
Voltar a Angola?
Voltar a Moçambique?
 
Voltar a um lugar? A uma pessoa? A um instante?
 
Quando eu souber, de verdade, que todos os lugares são um só, nunca precisarei de voltar. Nem de partir.
Por agora fico, aqui, nesta terra distante. 
 
Mas... estarei eu assim tão distante? Às vezes acho que estou perto, muito perto.
Talvez porque nunca se parte por inteiro, nunca se regressa por inteiro. Então como voltar de onde nunca chegamos a partir? E como não voltar aos lugares aonde fomos (somos?) plenitude e Vida?
 
Saio de casa e o meu coração quer voltar. Chego a casa e o meu coração quer voltar.
Quando todos os lugares são terras distantes e quando em todos algo nos faz prometer voltar...
 
Mas, afinal, nada do que conhecemos é distante, porque vive em nós.
Porque os lugares são mais do que a intensidade do pôr-do-sol laranja, mais do que a terra vermelha do chão, do que o asfalto da estrada. Porque os lugares não são as paredes e os móveis, não são as avenidas nem a água do mar.
Os lugares são palcos. E o que fica em nós são as pessoas que o enchem para nos contar uma história, para nos divertir, para nos ensinar, para nos tocar, para nos fazer pensar. O que fica em nós são as interações não ensaiadas nesse palco, são as improvisações constantes, são as surpresas que não estavam no guião, são as cumplicidades e as descobertas.
Os lugares são essas pessoas a quem pometemos voltar. Mas a verdade é que não chegamos nunca a partir. Nunca partimos das pessoas a quem prometemos voltar. Ficamos sempre com elas e elas ficam sempre connosco.
 
Prometes voltar?
Não. Prometo nunca partir.

3 comentários:

  1. "Os lugares são essas pessoas a quem pometemos voltar. Mas a verdade é que não chegamos nunca a partir. Nunca partimos das pessoas a quem prometemos voltar. Ficamos sempre com elas e elas ficam sempre connosco."

    vou guardar no meu coração!Obrigada MOMI***

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  2. Nunca partes mana ... Nunca partes de mim, de nós ... Nunca deixamos de te sentir perto ... Todos os dias quando conduzo o Clio cheiro-te como se estivesses sentada ao meu lado! E que bom é começar assim o dia com os meus irmãos ... o teu cheiro e o Joni que levo para a escola! Tantas saudades mana, tantas ... Bj gd!

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  3. Mana mais maravilhosa...! Estás em cada instante em mim e nessa Elsa deliciosa que escreveu em cima e a quem eu chamo Elsa Cristina e Elsa Pacheco muitas vezes :) só para te ter ainda mais presente.
    Obrigada, Elsas bonitas deste mundo!

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