O Malaquias é um menino pequenino. Tem 6 anos. Nunca o vi brincar. Vem
com a mãe, vai para a escola e depois volta. Toma banho no tanque e ajuda a mãe
em pequenas tarefas.
- Helena, o Malaquias é muito pequenino. É criança, tem que brincar.
- Helena, o Malaquias é muito pequenino. É criança, tem que brincar.
A Helena ri. O Malaquias continua com o seu olhar sério e quieto, no
silêncio a que nos habituou. Nunca o vi brincar. Almoça com a mãe e depois fica
num canto, revirando pequenos papéis que encontra pela casa. Dorme a sesta num
sofá improvisado com colchões no corredor. Nós falamos, puxamos conversa, mas
há apenas silêncio.
Os dias passam e um dia há um sorriso e outros que se vão repetindo. Depois palavras. A voz envergonhada, a medo, que responde em frases curtas. A cabeça que acena para dizer sim ou não.
- Ele não fala, é maluco.
Os dias passam e um dia há um sorriso e outros que se vão repetindo. Depois palavras. A voz envergonhada, a medo, que responde em frases curtas. A cabeça que acena para dizer sim ou não.
- Ele não fala, é maluco.
- Helena, não digas isso. O Malaquias não é maluco!
- Aquele que não fala, é maluco...! , responde.
Na verdade, não percebemos bem o que se passa com o Malaquias. Mesmo
com a mãe não fala muito. Só o indispensável.
Quando fico em casa um pouco a seguir ao almoço, vem até ao meu quarto e fica quieto e calado, esperando que eu faça algo, diga algo. E quase sempre continua em silêncio, com o olhar que pede desculpa pela sua timidez. E é assim que as suas poucas palavras e os seus sorrisos distraídos são surpresas boas quando acontecem.
De prenda de Natal, trouxe carrinhos de brincar e chupa-chupas. Depois de almoço, o alpendre é palco da coisa mais banal do mundo que me comoveu: sentado no chão, de chupa-chupa na boca, o Malaquias brinca com os carrinhos. E, de repente, é só uma criança como outra qualquer, tranquilo a brincar. Brincar. O Malaquias a brincar. Que imagem bonita!
- Malaquias, vem cá ver outra coisa que te trouxe.
Ele vem, o olhar atento, mas sempre em silêncio. São jogos didáticos oferecidos por uma amiga que nem o conhece, mas se partilhou com bondade genuína. Vão ser maravilhosos para ajudá-lo a superar as dificuldades que vem sentindo na escola.
Pensei que ia querer voltar rapidamente para os carrinhos e já me preparava para mostrar os jogos com entusiasmo exagerado. Jogamos um a um. Cada aprendizagem reconhecida e valorizada.
- Helena, vem ver como o Malaquias é inteligente!
Quando fico em casa um pouco a seguir ao almoço, vem até ao meu quarto e fica quieto e calado, esperando que eu faça algo, diga algo. E quase sempre continua em silêncio, com o olhar que pede desculpa pela sua timidez. E é assim que as suas poucas palavras e os seus sorrisos distraídos são surpresas boas quando acontecem.
De prenda de Natal, trouxe carrinhos de brincar e chupa-chupas. Depois de almoço, o alpendre é palco da coisa mais banal do mundo que me comoveu: sentado no chão, de chupa-chupa na boca, o Malaquias brinca com os carrinhos. E, de repente, é só uma criança como outra qualquer, tranquilo a brincar. Brincar. O Malaquias a brincar. Que imagem bonita!
- Malaquias, vem cá ver outra coisa que te trouxe.
Ele vem, o olhar atento, mas sempre em silêncio. São jogos didáticos oferecidos por uma amiga que nem o conhece, mas se partilhou com bondade genuína. Vão ser maravilhosos para ajudá-lo a superar as dificuldades que vem sentindo na escola.
Pensei que ia querer voltar rapidamente para os carrinhos e já me preparava para mostrar os jogos com entusiasmo exagerado. Jogamos um a um. Cada aprendizagem reconhecida e valorizada.
- Helena, vem ver como o Malaquias é inteligente!
A mãe orgulhosa, ele concentrado em montar o puzzle, em juntar as peças
do dominó, em encaixar as letras e os números no sítio certo. E eu encantada.
Aos poucos, a voz do Malaquias tornava-se mais presente. Sempre baixinho e envergonhado, mas lá ia dizendo o nome dos números e das letras. A seguir, hora de eu voltar ao trabalho, entregou-se ao livro de pintar e pintou pintou pintou... Antes de se ir embora com a mãe, foi com ela até ao meu escritório com um dos carrinhos na mão e pediu:
Aos poucos, a voz do Malaquias tornava-se mais presente. Sempre baixinho e envergonhado, mas lá ia dizendo o nome dos números e das letras. A seguir, hora de eu voltar ao trabalho, entregou-se ao livro de pintar e pintou pintou pintou... Antes de se ir embora com a mãe, foi com ela até ao meu escritório com um dos carrinhos na mão e pediu:
- Acende.
- Não dá, Malaquias. É mesmo assim.
Ele lá foi, conformado.
Hoje, à hora de almoço, já me esperava com os jogos na mão. E brincou, e aprendeu e sorriu.
Hoje, à hora de almoço, já me esperava com os jogos na mão. E brincou, e aprendeu e sorriu.
Às vezes era tão bom ser Malaquias por um bocadinho de vida :)
ResponderEliminar:)
EliminarE assim se faz mudança na vida de uma criança :)
ResponderEliminarNinguém o faz melhor do que tu :)
EliminarLembro-me de me falares no Malaquias. Ao ler este texto não consegui conter alegria :) és maravilhosa Momi, não me canso de o sentir*
ResponderEliminarJoni linda :)
EliminarÉ porque as coisas que vivemos só fazem sentido partilhadas, mesmo assim ao longe.
xi-coração* estamos juntas!