Libertar

Há coisas que são tão importantes para nós, que as mantemos prisioneiras. Amores, amigos, memórias, fotografias, textos, roupas, símbolos, lugares. E prendemo-los com tanta força, que nem percebemos que os prisioneiros somos nós mesmos: não é aquilo que está preso a nós, somos nós que estamos presos àquilo, o que quer que seja.
É, ainda, a aprendizagem do desapego. De saber guardar o essencial no lugar certo, não a carregá-lo à toa para todo o lado. Sempre esse aprender a ser inteiro, a ter o coração em paz, as mãos vazias, a mente limpa.

Liberta.
Respira fundo.
Liberta.
Guarda as coisas boas. Guarda só o que foi bom. Mas guarda.
Não podes carregar tudo contigo. É pesado. Não cabe na tua mala. Leva contigo só o necessário para hoje, para amanhã talvez.
Não é preciso deitar fora, não é preciso esquecer, não é preciso abandonar. É preciso guardar. Guardar bem, para lembrar de vez em quando, com um sorriso leve e sereno. Mas guardar.

No calor do Verão não levas contigo um casaco quente, pois não? Se saíres de casa com o sol a brilhar num céu imaculadamente azul, vais levar guarda-chuva?
O casaco e o guarda-chuva continuam a ser teus, mas estão guardados. Tu sabes onde estão e ter-lhes-ás sempre acesso, mas estão guardados.
Então, guarda isso que te pesa a atravessar os dias. Guarda. Sabes que ninguém to irá roubar. 

Se estiveres carregado de coisas, como segurarás uma flor que te ofereçam? Como caminharás pela rua sem te cansares? Como conseguirás abraçar um amigo que encontres?
É preciso seguires leve, para que a vida te possa encher. É preciso criar espaço. E para isso, tens que guardar. Libertar.

Liberta.
Sê livre.

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