Ubuntu

Eu sou porque tu és.















Eles são diferentes. São tão diferentes!  Diferentes países,  idades, profissões.  Diferentes ideias, diferentes tamanhos, diferentes pronúncias.
E é essa mesma diferença que os torna absoluta e profundamente iguais. Confundem-se na alegria confiante, nos olhos sonhadores e nas mãos agitadas à procura de acções para concretizar o outro, todos os outros, razões de cada dia que amanhece, de cada pedaço de ar que inspiramos. 
Levamo-nos uns aos outros em cada célula e é só quando nos reconhecemos como família gigante que o universo nos abre as portas à vida.
Não se distinguem misturados em multidão atenta às inspirações, porque são juntos. São humanidade enquanto nação e rasgam essas fronteiras artificiais em pontes de amor.
Eu sou porque tu és.

Encontraram-se lá no alto, com o mundo aos pés, a mostrar-se bonito em ondas de mar a beijar areia, a chamá-los para esse afeto guardado em cada um à espera de explodir na comunhão dos reencontros. Porque cada pessoa que conhecemos é, afinal, um reencontro. Eu sou porque tu és.

Aqueceram a areia da noite com o calor dos corpos contentes. Conversas cruzadas, dedos a dançar em cordas.
Lá em cima as estrelas, mas o céu sentou-se mesmo ali ao lado e cantou com eles.
"Ke ki mininu na tchora?" A Guiné aqui tão perto. Depois Cabo-Verde. E afinal era o todo o mundo que cada um carregava em si!
Eu sou porque tu és.

Há instantes que agregam despedidas e reencontros, saudades e novos amores. Segundos que são todos os calendários, pessoas que nos devolvem os que não estão cá, lugares que são todos os sítios que pisamos em entrega. E a sofreguidão de viver acalma-se cá dentro, porque bebemos o mundo e há sempre mais mundo para beber. Há sempre mais mundo para conhecer e partilhar. Só para descobrir, no fim, que o mundo esteve sempre dentro de nós.
A Academia Ubuntu é esse instante. A Academia Ubuntu são essas pessoas. A Academia Ubuntu são todos esses lugares.
Eu sou porque tu és.

E ela, perdida na sua inquietude infantil, encontra-se nesse novelo de gente. E o coração deixa de doer da angústia do caminho. E volta a acreditar que é possível. O Mundo é possível! Mas só assim faz sentido. Só assim.
Como quando queremos cantar a nossa música preferida mas, desafinados que somos, não ousamos soltar a nossa voz sozinha. Erga-se um coro de vozes e lá estaremos nós a cantar também. Juntos não desafinamos. Fica uma só voz, inteira de mundo.

Ubuntu. Eu sou porque tu és.

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