Há uma
semana atrás, por esta hora, regressava de mais uns dias pelas escolas do Sul
da Guiné, desta vez em Empada.
Há uma semana atrás, por esta hora, vinha no
caminho cansada dos dias de trabalho e formação, corpo dorido da estrada de
terra vermelha inacreditavelmente esburacada, e coração pleno de paz.
Há uma
semana atrás, por esta hora, não adormeci na viagem; pensava em tudo que
melhorou nestas escolas, em como tinha corrido bem o trabalho e em como, ainda
assim, continuava a ser preciso fazer tanto mais, tanto melhor.
Há uma semana
atrás, por esta hora, chegava a casa com a sensação de que me ia lançar ao
computador e escrever, escrever… mas paralisou-me a sensação de que, afinal,
tinha feito tão pouco.
Há uma
semana atrás, e nos dias que se seguiram, fui lembrando o Professor Braima,
“sozinho na escola”, que nos recebeu no portão da escola tranquilo e sorridente.
Consciente de todas as carências do professor e do meio escolar onde está, confesso que não esperava grandes melhorias. E que boa surpresa! Fez tudo bem. Quase tudo. Tanta coisa! Até o mapa de docentes onde só o seu nome consta, até o registo de assiduidade de professores onde só ele assina e só ele controla.
Consciente de todas as carências do professor e do meio escolar onde está, confesso que não esperava grandes melhorias. E que boa surpresa! Fez tudo bem. Quase tudo. Tanta coisa! Até o mapa de docentes onde só o seu nome consta, até o registo de assiduidade de professores onde só ele assina e só ele controla.
Se sonhassem as dificuldades que ele
passa, as condições daquela escola, a casa onde ele mora, o salário ridículo
que ele recebe, vocês também iam achar que era importante escrever sobre isso. Fez tudo o que lhe expliquei na última visita,
pôs em prática tudo o que foi trabalhado na formação.
E perante tamanha superação, tamanha entrega, tamanha dedicação, fica
ainda menor o que damos, o que eu dou. O que fazemos, o que eu faço.
É só um
pouco mais que nada. E é tão pouco que às vezes é mesmo quase nada. Mas nunca é
nada. Apenas pouco.
Mesmo quando acreditamos muito, quando trabalhamos muito, quando pensamos muito, quando desejamos muito, quando procuramos muito, quando amamos muito. É pouco.
Mesmo quando acreditamos muito, quando trabalhamos muito, quando pensamos muito, quando desejamos muito, quando procuramos muito, quando amamos muito. É pouco.
Como
gotas. Gotas de água que se somam num compasso demasiado lento.
Não
matam a sede.
Nem
sequer a minha.
Tudo é
tão pouco.
É
preciso mais.
Mas eu
não sei o quê. Ainda.
É preciso uma chuva de gotas. Um torrente de acções, de entrega.Somar gotas não é suficiente. É preciso multiplicá-las.
Tenho sede.
Tenho tanta sede…
Ainda
assim, nestes dias não há nada melhor - nada melhor! - do que chegar à noite
feliz pelo cansaço no corpo e na mente. Cansaço bom de quem deu tudo e fica
ainda mais repleta, cansaço de energias gastas e coração cheio. Pela paz serena
e pela certeza do caminho. E inquietude. Sempre inquietude.
Há uma
semana atrás, por esta hora, era assim que esvaziava a mochila de roupa e
papéis. A cabeça cheia a pensar no pouco que foi o tudo de mim. Coração
inquieto a querer mais.
Comentário a quê?
ResponderEliminarDe uma beleza e constatação do verdadeiro significado do Amor,do muito que parece pouco, não,não encontro palavras, só admiração profunda do "Teu Tamanho".
Abraço-te com todo o emu amor.
Mami
Tu é que me fizeste. Que me fazes.
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