Pelos caminhos da Guiné-Bissau

Acordar bem cedo. Saltar para dentro do jipe. Iniciar viagem. Estrada de alcatrão que rasga o mato das palmeiras e mangueiras, dos lagos que a intensa época das chuvas fez nascer. Cores de pessoas que cruzam a estrada, mulheres a caminho da bolanha, crianças em direção à escola. Seguimos caminho e os olhos fecham, a cabeça balança com o sono.
O alcatrão fica para trás. É agora a terra vermelha esburacada que segura os nossos solavancos.
No fim da estrada, o mar separa-nos de Bolama. Esperamos a canoa, pequenina. Tenho medo e rio de nervoso; a canoa a transbordar de gente, a mão mergulhada na água. Chegamos a Bolama, a ilha parada no tempo. As escolas que tentam ser esperança. As crianças, essas, iguais às de todo o mundo, rindo envergonhadas, contentes, despreocupadas. Sabe Deus as horas de caminhada para lá chegarem, o pouco que comeram, o trabalho que já fizeram de manhã cedo e o que ainda vão fazer antes de dormir.
No dia seguinte, voltamos a entrar na frágil canoa, a tremer, mas confiantes. E a beleza da paisagem distrai-nos do medo. Agora seguimos caminho para Tite. Tabanca no profundo interior da Guiné-Bissau, onde tudo é tão pouco, mas são muitos os poucos missionários que por lá se aventuram a mostrar Deus. São muitos os esforços, são muitos os dias de trabalho. São poucos os missionários, mas gigante a sua vontade. Valem por mil!
E eu, pequenina, já de regresso a Bafatá, relatórios fechados, com o mais importante por dizer. Não por falta de tempo, mas por falta de palavras.
Como dizer o indizível?
Se eu pudesse escrever tudo o que o meu coração diz, tudo o que sente, que me faz sentir; se eu tivesse palavras para cada angústia, para cada medo, para cada impressão; se eu conseguisse expressar a plenitude de cada alegria, a intensidade que cada descoberta acarreta; se eu pudesse escrever a verdade mais simples, se eu pudesse pôr em palavras as coisas que vejo e sinto sobre esta terra vermelha...
Fica, mais uma vez, este sentir sempre sem nome, porque sempre novo. E como é bom sentir sem nome…! É grande em mim e certeza de vida. Sentir. É só isto.
 
 
 

3 comentários:

  1. Tão bonito!
    Que sorte eu tenho!

    ... tanto que toca!
    "...a ilha parada no tempo. As escolas que tentam ser esperança. As crianças, essas, iguais às de todo o mundo, rindo envergonhadas, contentes, despreocupadas. "

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  2. Podes sentir-te mesmo muito feliz cara amiga, porque significas para cada uma dessas crianças, que apesar de serem iguais em todo o mundo, têm um tratamento bem diferente de tantas outras, o sol mais brilhante do Universo :)
    Uma beijoca com saudades

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  3. Minha querida Luisa, se tu soubesses como eu faço tão pouco... Mesmo!
    Obrigada por esse miminho exagerado :p beijinho grande!

    Elsinhaaa... que sorte TEMOS!

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