Loucura

- Mónica, nós somos doidos?
- Como, Irmã?
- Nós somos doidos?
- Nós quem, Irmã? Nós "todas as pessoas do mundo"?
- Nós, todos os que saímos dos nossos países! Não somos doidos??
- Somos sim, Irmã! Somos sim!
- Não somos normais, pois não?
- Não! Mas também a Irmã não queria ser normal, de certeza!
- É... É isso que estou falando! É bom não ser normal. 
(...) 
Se bem que, de vez em quando, eu queria ser normal. 
Estou com saudades. 
(...) 
Vai passar.

Ah! É preciso ser doido mesmo! Ser doido para sair de casa, ser mais doido ainda para voltar. Ser doido para conhecer, partilhar. É preciso ser muito doido para amar. Ninguém no seu juízo perfeito se põe a amar pessoas assim à toa. É que isso dói. Só doido, bêbado talvez, um alguém se permite a desvarios dessa ordem. Pois claro!
Mas há momentos em que bate aquela vontadezinha de ser normal, simples, de experimentar tédios de rotinas e lugares, de não cansar o riso de entusiasmos, de não atormentar o coração de despedidas. E logo passa. Cedemos sempre ao encantamento da loucura, à constante inconstância, à saudade, às borboletas na barriga. Cedemos sempre à Vida. Vivemos. Não, não somos normais. Somos doidos. Que bom!

Os loucos, os verdadeiramente loucos, permitem-se essa loucura, escolhem essa loucura.
Os loucos, os verdadeiramente loucos, guardam na loucura a força para continuarem a ser loucos num mundo de lucidez cega, de sensatez insípida.
Os loucos, os verdadeiramente loucos, aprendem de cor o bom-senso da normalidade e representam-no em qualquer palco; como quem brinca ao faz-de-conta, eles brincam à seriedade e à prudência, intervalos da sua saudável demência.
Os loucos, os verdadeiramente loucos, acreditam, confiam, entregam-se, lutam. Só sendo louco mesmo...

Neste mundo é preciso seres louco. Se não, vais enlouquecer.

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