Sagrado

Como se reconhece o sagrado? O que é sagrado?

Acho que o sagrado está para além de qualquer religião, ainda que eventualmente transversal a todas elas. O sagrado está na vida, e aparece de surpresa, quando menos contamos.

Aparece no mais mundano dos prazeres, no mais profundo e mais intenso dos prazeres, rasgando-o, superando-o. Sem pedir licença, sem avisar, sem se fazer notar. E assim distraídos nesse deleite sensitivo, quando parece não haver mais nada a sentir, eis que o sagrado ocorre. Como identificá-lo? Ah! Pudera eu preservar sequer a memória de o ter vivido! É que é tão intangível, que não há como gravá-lo num qualquer modelo conceptual. Não, claro que não dá para descrever. E olhem que eu tentei! Olhem que eu me demorei em viagens de vocabulário para conseguir concretizar isto numa qualquer palavra, ainda uma que inventasse num novo desenho de letras. Mas este sagrado é duma transcendência que até senti-lo nos foge. É um sagrado que não é nosso, não nos pertence. Desce nessa dádiva inesperada de explosão serena de um elemento desconhecido, pedaço divino de viver, instante imaculado de razão.

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