Aterrar

Hoje acordei com a chuva a cair de leve na clarabóia do meu quarto. Como um acolhimento da vida, um aconchego da saudade a doer.
Tudo em mim é intenso. Tudo em mim grita. A gratidão que abraça. A distância que sufoca.
E essa suave chuva matinal a lembrar a serenidade à tempestade cá dentro.

É vida. O riso e a saudade, os reencontros e a distância, o para sempre e o nunca mais. Vida a acontecer. 
Hoje eu sei. E não queria que fosse de outra forma. É vida. Esse desassossego na respiração, essa turbulência nos sonhos que ainda não nos acordaram, nas vontades não satisfeitas, nas sedes que ainda não têm água, nos fins que não aceitamos definitivos. É vida. Essa gente que amamos, esses abraços que nos acolhem, as surpresas que não esperávamos, a paz que se impõe em nós no meio de fogo cruzado nos sentimentos. É vida.

Cheguei. O coração a aterrar devagar, com medo de pousar, como se continuar em viagem adiasse a concretização de um adeus. 
Mas cheguei. E o coração pousou. Um pouco forçado, agarrado por uma corda. Mas está aqui, comigo. Ri e chora nessa plenitude de sentir. Explode num fogo misturado de mundos e gentes. Inteiro de amor.
Cheguei.

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