Naquela noite, a lua estava um pequeno arco. Um sofá, um abraço, um baloiço. Dava vontade mesmo de deitar lá, de ficar nesse repouso aconchegado, sem tempo e com todo o tempo do mundo, sem pensar nada que não no prazer desse encontro. E a lua não ia dizer nada. E eu também não. Deixaria que as estrelas contassem o que eu não sei falar.
Às vezes, a vida põe-nos o cabelo ao vento. Como uma
passadeira rolante; por mais que nos sentemos num lugar, a vida segue adiante,
e nós seguimos com ela. Se estivermos atentos, sentimos mesmo esse vento no cabelo
e deixamos o corpo tombar para o lado nas curvas.
Há momentos em que andamos
para trás, mas afinal não saímos do lugar, porque a passadeira continuou a
rolar. Outros momentos, apressados,
caminhamos ou corremos, acelerando a vida. Depois, cansados, encostamos
no corrimão, deixamos a vida correr sozinha.
Hoje sinto o vento bater-me no cabelo. A passadeira segue
numa velocidade estonteante. Sabe bem esta brisa no quente que sinto explodir
em mim. Esse calor de vida a acontecer.
E hoje não haverá lua no céu; ficou pequenina até desaparecer, só pelo prazer de ser fazer nova outra vez. Esta noite ela não será subterfúgio de metáforas desajeitadas. Fica a vida sem figuras de estilo, apenas a poesia sentida e inexpressável.
Sabe bem esta brisa. Não sei parar a
passadeira, não posso saltar. Tenho que me deixar ir, o fogo em mim, a brisa a
acalmar.
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