Pequenez

Tenho pensado em como preciso ser maior. 
O mundo é uma caixa de desafios e às vezes sinto-me esmagada pela complexidade de alguns. O primeiro instinto é ignorar, olhar para o lado, fingir que não percebo. Depois acabo sempre perdida em reflexões vazias de respostas e volto a fingir o meu desentendimento. Ainda que nem precise fingir muito, porque a maior parte das vezes não percebo mesmo. E quando percebo, vejo soluções tão simples, que fico a pensar que talvez não tenha compreendido realmente o problema.
Vivo entretida a tentar fazer alguma coisa, realizada por me sentir a viver o meu sonho, feliz por alguém o ter escolhido por mim, pois certamente eu não saberia escolher tão bem. Mas o sonho é maior que a sua própria vivência e eu sou mais pequena que a realidade. Tão pequena que não consigo sequer tornar real o sonho que vivo. Serei eu digna deste sonho se me limito a sonhá-lo?

Na verdade, sinto-me absolutamente inteira na minha pequenez. Então talvez me falte apenas essa humildade: reconhecer o meu tamanho enquanto o vivo em plenitude. Concentrar-me nas minhas pequenas e invisíveis tarefas e depositar nelas o entusiasmo e a dedicação de uma odisseia. Se é isto, fico tranquila na minha alegria grande de vida e prometo seguir atenta. 
Mas, ao mesmo tempo, assusta-me o quão facilmente nos contentamos com a nobreza dos nossos actos, com o "fazermos" a nossa parte". É isto que dizemos a nós próprios em momentos de frustração; é isto que dizemos aos outros quando os vemos desanimados. E a verdade é que traz sempre um efeito apaziguador. Ficamos em paz e continuamos o nosso caminho.

Eu confesso: sinto-me tão bem nas coisas pequeninas! Que acho que procuro apenas argumentos para me manter ocupada e feliz com elas... E quando olho para o mundo, repito a mim mesma esse cliché fofinho: "Estou a fazer a minha parte." 
Depois tudo ficaria bem, não fosse essa voz que diz baixinho: "E se não for suficiente?"

3 comentários:

  1. há-de ser suficiente.
    Os outros o dirão e a vida mostrará.
    Humildade não é problema, está aqui: Ainda que nem precise fingir muito, porque a maior parte das vezes não percebo mesmo.
    Uma análise de uma humanidade clara. Transparente. A densidade está na vivência, com toda a certeza. Gostei de ler esta crónica-desabafo.
    (nota ps: "...Que possamos continuar a avistar ilhas ao longe. Que dentro de nós sempre existam lugares novos e puros." Só isso na parangona, já diz tanto.

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  2. Sim ... reconhecer o teu tamanho enquanto vives na plenitude ... fazê-lo com humildade e realismo e isso mana não te remete para pequenez e não passa por tarefas pequenas e invisíveis ... fazes muito, muito mais do que a tua parte ... precisas sim reconhecê-lo, ver-te que as lentes que o mundo te vê, acolhe e permite viver! Preocupa e doi saber-te nessa inquietação, nessa angústia ... mana ainda não percebeste o tamanho do teu ser? da tua luz? Ainda que grão de areia és aquele que se destaca pela luta pela sobrevivência, sua e dos demais! Acredita mais em ti! Bjs da Madalena até Bafatá :-)

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  3. vocês é que me vêm com lentes de aumento!
    e sim, eu percebo o tamanho do meu ser, e ficaria satisfeita pequenininha assim, não fosse o mundo pedir tanto mais...
    e fica tranquila, mana, a inquietação e a angústia não são sempre negativas :)
    abraço enoooorme*

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