Encontro perfeito

com a chuva.















Os últimos dias foram demorados pelo Sul profundo desta Guiné-Bissau. Escolas, crianças, professores, pais, comunidades. Muitas escolas, muitos quilómetros percorridos. Corpo cansado dos caminhos que nunca viram estrada, costas doridas de um todo-terreno experiente da Guiné e dos saltos constantes em intervalos de terra que se abrem pelo mato.
Dia 15 foi o dia oficial do início da época das chuvas, aqui já aguardada com alguma ansiedade depois de meio ano em que o sol não descansou de brilhar. Mas o dia chegou sem água a cair do céu. Só nuvens fortes, a avisar que já não falta muito. E eu já a sonhar com a paz contente de correr em poças de água enquanto as nuvens se desfazem sobre a terra.
Hoje, no caminho de regresso, absolutamente exausta de cinco dias de trabalho bom e intenso, cruzamo-nos com vestígios de uma chuva que já tinha caído e inaugurado o cheiro inconfundível da terra molhada. E eu vinha a saborear e a respirar a sensação boa dos dias terminados, repleta de vozes, olhares e sorrisos misturados com o novo tom cinzento dos dias, em que o sol se substitui pela luz das pessoas inexplicavelmente bonitas que preencheram esta semana.
Chegada a Bafatá, o aconchego bom de estar em casa. Chuva, nem perto. O céu azul, só algumas nuvens a brincar distraídas. E era hora de descanso. Luxo bom do corpo na cadeira, os pés a descansarem no beiral do alpendre, a internet a relembrar esse mundo grande de gente e de saudades. E vem assim de surpresa, como o final perfeito num descanso esperado, aquele vento forte que anuncia a chuva. Criança feliz em mim, não tenho tempo nem de pensar, corro a sentir o vento fresco que levanta a poeira que a chuva ainda não acalmou e fico sem saber se será desta que virá fazer lama. O vento acalma e parece que foi só de passagem. Mas não; já de regresso a casa, começam pequenas pingas. A primeira chuva de 2013. Ainda sem pensar muito, tenho apenas tempo para partilhar a alegria quase ridícula (quase?)  num instante impulsivo.
E depois? Ah! Depois foi só sentir a chuva! A água a cair. O banho inundado de luz, de renovação. A sede da terra que soltava o calor guardado nos últimos meses. E foi assim até as mãos ficarem enrugadas, como a criança que não quer sair da piscina numa tarde de Verão.
Começou a época das chuvas da Guiné-Bissau. O sol continuará a brilhar em intervalos de arco-íris. E eu continuarei a aprender e a viver a magia de cada instante.

Sem comentários:

Enviar um comentário